3.out.2011
LANÇAMENTO ARQUIVO SECRETO DO VATICANO E REVISTA LETRAS COM VIDA
03 DE OUTUBRO - SALÃO NOBRE DA REITORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA - CIDADE UNIVERSITÁRIA - 18H30.jpg)
ARQUIVO SECRETO DO VATICANO
DOCUMENTAÇÃO PORTUGUESA
OBRA MONUMENTAL EM 3 TOMOS
Há bibliotecas e arquivos míticos que têm suscitado as mais fantásticas histórias e alimentado diversíssimos livros de ficção muito lidos mundialmente. O Arquivo Secreto do Vaticano é imaginado correntemente como um dos arquivos mais secretos do mundo. Tão mitificado como este Arquivo talvez possa ombrear em fama a Biblioteca de Alexandria, a maior biblioteca da Antiguidade destruída por um incêndio. Na realidade, aquela que era a Biblioteca privada do Papa, o Arquivo Secreto do Vaticano, tem acumulado, ao longo dos séculos, informação preciosa acerca dos dois mil anos de história da Igreja nas suas relações com o mundo.
Com esta obra pretende-se levantar um pouco o véu desse imenso arquivo e revelar documentação pouco conhecida relativa ao período da Expansão Portuguesa, desde o século XV ao século XX. Preparados por uma vasta equipa de investigadores durante cerca de década e meia que pesquisou o fundo da Nunciatura de Lisboa patente no Arquivo Secreto do Vaticano, estes volumes revelam-se de grande importância para quem se interessa pelo conhecimento da história, da política, da religião e da sociedade no âmbito das relações de Portugal e as grandes regiões do seu chamado Império Ultramarino. Esta é uma obra de grande fôlego. Pode ser considerada uma espécie de base de dados notável resultante do processo de expansão mundial do Cristianismo por via portuguesa que operou aquilo que podemos chamar a primeira época da globalização das relações entre os povos.
O TERCEIRO NÚMERO
DA REVISTA LETRAS COM VIDA
O terceiro número da Revista Letras Com Vida, tendo por centro o centenário da (re)fundação da Universidade de Lisboa (UL), procura trazer novas cores e tons à missão e convite subentendidos no seu título, objetivo atingível através da vasta interrogação das interações entre a Universidade e a Vida.
O debate aqui promovido começa com a referência ao papel da Universidade na ciência, na cultura e na vida da Europa dos séculos XX e XXI, numa Europa em processo de unificação, atualmente desafiada pela crise económica. Este caminho abre-se na entrevista internacional concedida pelo conhecido crítico literário e pensador europeu George Steiner (Churchill College, Universidade de Cambridge e Doutor honoris causa da UL). Apontando vários aspetos que assombram o hoje e o amanhã das universidades, e sublinhando a inevitável especialização destas de acordo com as disciplinas de abrangência internacional, o autor de As Lições dos Mestres revela-nos uma fonte paradoxal do otimismo – a crise como fator para os jovens descobrirem os prazeres menos imediatos e saborearem a arte, tornando-se participantes mais conscientes da cultura, da ciência e da vida.
A rica reflexão de George Steiner encontra a sua continuação, amplificação e especificação nas secções subsequentes desta edição da revista, na maioria dos casos focadas sobre a realidade portuguesa e sobretudo num facto específico de enorme importância – os cem anos de história da Universidade de Lisboa. A figura a que cumpre dar mais demorada palavra neste assunto será ao Professor Doutor António Nóvoa, atual Reitor da UL – que lidera a sua Universidade na presente transição entre os programas estratégicos de educação comunitária –, que desde a “Estratégia de Lisboa” à “Europa 2020”, sonha e empenha-se numa reforma da UL movida pela ideia de criação cultural, científica e pedagógica. A Universidade de Lisboa e o tão único olhar do seu Reitor predominam em quatro partes da Revista: "Dossiê Temático" dedicado ao Centenário da Universidade; Nós, os Outros – o Reitor da UL entrevistado por Miguel Real –; o extra-texto "Cadernos" que oferece uma seleção dos principais discursos do Reitor da UL, desde a sua tomada de posse em 2006; a "Monofolha" que apresenta uma cronologia com os grandes marcos da Universidade em Portugal na sua articulação com o percurso histórico da Universidade de Lisboa.
No "Dossiê Temático", dedicado ao Centenário da UL e coordenado por José Eduardo Franco e Ana Simões, o leitor encontrará uma série de biografias de grandes personalidades ligadas à UL que influenciaram a cultura e a ciência portuguesas nos últimos cem anos. Este conjunto é acompanhado por duas reflexões de fundo proferidas por duas destacadas figuras da Universidade de Lisboa de hoje: Luís Salgado de Matos pergunta pelas mudanças no modelo da UL no artigo “A Universidade de Lisboa. Uma breve visão estratégica das suas relações com o Estado”; Fernando Cristóvão dá-nos o testemunho de um académico, protagonista e participante da vida e ciência universitárias ao longo das últimas décadas. À lista das personalidades da UL evocadas no "Dossiê Temático", Fernando Cristóvão acrescenta ainda (na Evocação) o nome de Luís Filipe Lindley Cintra, recordado não apenas como grande professor e especialista nas áreas da Filologia e da Linguística Portuguesa, mas igualmente pelo seu caráter vincado e frontalidade.
As questões sobre as Letras e a Vida nas perspetivas portuguesa e europeia – não sendo possível contornar a temática da crise – influenciam também outras seções do terceiro número. Assim, por exemplo, na secção "Quinteto", Vera Borges, socióloga do ICS entrevistada por Rosa Fina, comenta, na sua reflexão sobre os artistas e sobre a sua relação com a cidade e com o mundo, que cada um de nós ganharia muito em encontrar o artista dentro de si, o que até seria bastante útil para ultrapassar esta crise.
Na secção "Vozes Consoantes" são apresentados cinco artigos de reflexão académica sobre cultura, topoi literários e disciplinas de estudo ainda in statu nascendi: as “Narrativas Desconcertantes” de Petar Petrov, que analisa a obra de Gonçalo M. Tavares no contexto da literatura portuguesa do século XXI; Amon Pinho, com o artigo “Da imaginação utópica”, propõe uma nova valorização da “utopia mas em ação” para invenção e alteridade social; “A África como locus na literatura portuguesa”, de Inocência Mata, que procura marcar novas dimensões na literatura portuguesa focada na África pós-colonial; Hanna Pięta, no artigo “Estudos Ibero-Eslavos em Portugal: uma Disciplina in statu nascendi”, apresenta teoricamente as realizações e desafios na última década da disciplina recentemente desenvolvida com mais vigor pelo CLEPUL e as instituições associadas: os estudos ibero-eslavos; finalmente o “Cinema Português 2001-2010”, de José de Matos-Cruz, será uma continuação do dossiê “Estado da arte 2000-2010” iniciado no segundo número da Revista. Aqui o leitor vai oportunamente ter em mãos algum material para considerar uma tese mencionada na entrevista com Gorge Steiner: “Será o cinema a disciplina que acompanha hoje em dia melhor a atualidade, e não a literatura?”.
Como é habitual a revista convida também a saborear a criação artística. A secção “Signos e Rotação” expõe alguns quadros de Alice Valente, apresentados por Annabela Rita, onde encontramos uma arte sensibilizadora ao olhar e ao sentir de cada um dos seus espetadores. Na criação literária encontramos os contos de Filomena Marona Beja, Antonieta Preto e de Sérgio Carvalho. Os inéditos de poesia foram amavelmente oferecidos por uma estrela nascente do nosso panorama cultural, Ana Salomé, e por um surpreendente Mendo Castro Henriques, que se estreia connosco na divulgação dos seus lavores poéticos.
Várias secções apresentam os frutos da investigação e da atividade dos membros e colaboradores do CLEPUL, recensões críticas, vida de letras e letras com vida no vasto horizonte científico e cultural abrangido pelo nosso Centro. Na secção "Inéditos", os leitores encontrarão alguns manuscritos de Eça de Queirós, referentes ao romance A Ilustre Casa de Ramires, apresentados e analisados por Cristina Sobral e Isabel Rocheta. O "Dossiê Escritor", coordenado por António José Borges, sugere-nos Urbano Tavares Rodrigues, um dos mais importantes escritores da literatura portuguesa do século XX, distinto e profícuo romancista, contista, ensaísta, crítico, cronista e poeta.
Por fim, ainda no que diz respeito aos “extra textos” deste número da Revista, o leitor receberá nas suas mãos o fruto de um projeto monumental do CLEPUL – um DVD com a mais recente obra de coordenação geral de José Eduardo Franco, Arquivos Secretos de Vaticano. Expansão Portuguesa: Documentação. Este é um contributo de uma vasta equipa de colaboradores do CLEPUL que oferece um importante compêndio de referência para a investigação em diferentes áreas.
Traçados os caminhos deste terceiro número, em que promovemos o debate sobre o complexo vida/universidade/cultura em perspetivas portuguesa e europeia, esperamos contribuir para um frutuoso diálogo, de modo a que os espaços onde a vida e as letras se encontram se alarguem, debatendo questões universais e sempre atuais. Juntamo-nos a George Steiner na esperança de um mundo capaz de “saborear o universal, profundo e difícil”, e esperemos, ao lado de António Nóvoa, que a mudança traga três desafios: “mais mundo, mais liberdade e mais conhecimento”.
DIREÇÃO DA REVISTA