Obra Completa do Padre Manuel Antunes

Título: Obra Completa do Padre Manuel Antunes
Autoria: José Eduardo Franco (dir.) [link para a ficha do investigador]
Editora: Fundação Calouste Gulbenkian
Ano de Edição: 2007-2011
N.º de volumes: 14

 

A Obra Completa, por volumes:

 

OCPMA, tomo I, volume I | Theoria: Cultura e Civilização – Cultura Clássica (Estudos)

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. I – Theoria: Cultura e Civilização, vol. I – Cultura Clássica (Estudos), Edição crítica, Coord. Cient. Arnaldo do Espírito Santo, Lisboa: FCG, 2007.

 

Da Introdução, por Arnaldo do Espírito Santo:

“Do conjunto da vasta produção intelectual do Padre Manuel Antunes, este volume reúne três géneros de textos muito específicos: cento e cinco verbetes que escreveu para Verbo, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura; quatro artigos publicados na revista Brotéria; quarenta recensões vindas a lume nesta mesma revista e duas na Revista Portuguesa de Filosofia. Ao todo são cento e cinquenta

e uma peças que têm a uni-las a temática comum da Cultura Clássica, no seu sentido mais lato. São, assim, abrangidas as grandes áreas da prosopografia, da filosofia, da mitologia, da literatura, da política, da religião, das instituições; da paideia, em suma.

[…]

A enciclopédia Verbo consta de vinte e três volumes, publicados entre 1963 e 1995. A colaboração do Padre Manuel Antunes prolongou-se por cerca de vinte anos até ao volume vigésimo. Foi uma colaboração de grande qualidade, sem nunca ceder ao facilitismo ou à banalidade. E se alguns dos verbetes não vão além de uma breve nota de poucas linhas, muitos são os que, com rara capacidade de síntese e precisão, apresentam o conceito e o situam, com todas as implicações culturais, na sua génese e evolução. Por vezes, numa só página é dado o alcance da significação etimológica e o enquadramento mitológico, bíblico, filosófico e teológico. Em todos os casos uma bibliografia essencial, de fontes e estudos, completa o verbete.

Diante do leitor, o que não acontecia com o utente comum da enciclopédia, perfilam-se neste volume, em sequência alfabética, os grandes protagonistas da vida intelectual e política da Antiguidade, poetas, filósofos, oradores, generais, imperadores, lado a lado com as grandes figuras da mitologia, deuses, semideuses, heróis e demais actantes desse mundo fabuloso, com os factos e lugares densos de historicidade, e com os conceitos, as obras, os mitos, os homens e os seus ideais. Lidos assim, em sequência, estes artigos desenham a impressão viva da Cultura Clássica, em que sobressai o Homem, enquadrado pelo seu espaço de vida: o da cidade, o da família, o do mundo que se abre diante dele.” (pp. 1-2)

 

 

OCPMA, tomo I, volume II, parte I | Theoria: Cultura e Civilização – Cultura Clássica (Sebenta de História da Cultura Clássica (1970)

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. I – Theoria: Cultura e Civilização, vol. II – Cultura Clássica, p. I – Sebenta de História da Cultura Clássica (1970), Edição crítica, Coord. Cient. Arnaldo do Espírito Santo, Lisboa: FCG, 2008.

 

Da Introdução, por Arnaldo do Espírito Santo:

“A sebenta referente ao ano de 1966/67, com toda a probabilidade vista e revista pelo Padre Manuel Antunes, no exemplar utilizado para confronto, termina abruptamente na página 464 T, sinal manifesto de que se extraviou uma folha ou um caderno. Ora, foi precisamente de um exemplar idêntico a este que se serviram os editores da versão policopiada de 1970, a mais divulgada e conhecida. Para disfarçar esse ar de obra truncada, bastou-lhes, ao fazerem a fotocópia de todo o texto, tapar um último parágrafo, operação que deixou marcas evidentes, eliminando-se as últimas quatro linhas de texto: ‘Assim, no Egipto: os Lágidas fazem-se passar, aos olhos dos Macedónios, como herdeiros directos de Alexandre; aos olhos dos nativos, como descendentes dos faraós, isto é, como deuses presentes na terra e senhores dela tanto’.

[…]

Uma breve revisitação da matéria abordada nas aulas teóricas de História da Cultura Clássica, tomando como base a sebenta, na sua versão de 1970, que reproduz a de 1966/67, e o caderno de uma estudante de Filologia Clássica que frequentou a cadeira no ano lectivo de 1972 /1973, ajudar-nos-á a compreender a dinâmica da sua ligação à prática pedagógica do Padre Manuel Antunes.” (p. 3)

 

 

OCPMA, tomo I, volume II, parte II | Theoria: Cultura e Civilização – Anexos/Sebentas

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. I – Theoria: Cultura e Civilização, vol. II – Anexos/Sebentas, p. I, Edição crítica, Coord. Cient. Arnaldo do Espírito Santo, Lisboa: FCG, 2011.

 

Da Introdução, por Arnaldo do Espírito Santo:

“Para o Padre Manuel Antunes o estudo da Cultura Clássica vale enquanto meio de se conhecer a si mesmo e às civilizações do Homem, nas suas raízes. Há frases que impressionaram de tal modo os estenógrafos dos apontamentos das aulas que, na diversidade generalizada da apreensão da matéria exposta e da consequente formulação, de ano para ano se mantiveram literalmente iguais. É esse o caso da expressão «concepções do mundo e da vida», com que se define o conceito de civilização. É nesta Sebenta que encontramos pela primeira vez esta expressão, a qual se repete doze vezes sob esta forma ou na equivalente «visão do mundo e da vida», como que a pautar em síntese o essencial do pensamento do Padre Manuel Antunes sobre o ensino da Cultura Clássica, que se manifesta da primeira à última sebenta conhecida. Mediante o registo escrito das suas aulas, transmitiu-se de ano para ano e ficou claramente gravado na mente dos seus alunos que ‘A História da Cultura Clássica é a história das concepções do mundo e da vida através das histórias parciais da literatura, da filosofia, na Grécia e Roma durante cerca de quinze séculos’ e que ‘a Cultura pertence às concepções do mundo e da vida ensinadas ou expressas na filosofia, na arte, na literatura, na religião, nas reflexões sobre as ciências e as técnicas, as invenções’ ou, ainda, que ‘Por História da Cultura entendo a história das concepções do mundo e da vida expressas ou encarnadas na literatura, na arte, na filosofia, na religião, no direito, na política e na ciência’ e que ‘O Renascimento dos séculos XV e XVI, no fervor de regressar às concepções do pensamento e às formas da arte da Grécia e de Roma, exalta os seus filósofos, escritores e artistas como os únicos verdadeiros clássicos.’” (pp. 6-7)

 

 

OCPMA, tomo I, volume II, parte II | Theoria: Cultura e Civilização– Anexos/Sebentas

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. I – Theoria: Cultura e Civilização, vol. II – Anexos/Sebentas, p. II, Edição crítica, Coord. Cient. Arnaldo do Espírito Santo, Lisboa: FCG, 2010.

 

Da Introdução, por Arnaldo do Espírito Santo:

“O essencial sobre o conjunto mais importante das sebentas da cadeira de História da Cultura Clássica, enquanto produto da actividade pedagógica do Padre Manuel Antunes, foi dito nas introduções ao Volume II e ao Anexo I do Tomo I da Obra Completa. De todos os materiais conhecidos os que aqui se publicam são, porventura, ainda que menos importantes, muito significativos. Trata-se de facto de quatro Sebentas, duas delas fragmentárias (ambas do mesmo ano lectivo de 1961-1962), uma de 1963-1964 e outra da cadeira de História da Civilização Romana, a ‘outra’ cadeira leccionada pelo Padre Manuel Antunes a partir do ano de 1965. Esta tinha menos alunos e geralmente as aulas eram dadas no Anfiteatro II e não no I, como a cadeira de História da Cultura Clássica.” (p. 1)

 

 

OCPMA, tomo I, volume III | Theoria: Cultura e Civilização – Filosofia da Cultura

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. I – Theoria: Cultura e Civilização, vol. III – Filosofia da Cultura, Edição crítica, Coord. Cient. Luís Machado de Abreu, Lisboa: FCG, 2008.

 

Da Introdução, por Luís Machado de Abreu:

Fundamentar é o imperativo da situação de complexidade crescente, pluralidade e heterogeneidade de caminhos, evolução contínua de saberes, mudança rápida de atitudes e comportamentos que caracteriza a vida das sociedades hodiernas. Destes sinais de conjuntura, os espíritos mais atentos e inquietos extraem apelos à fundamentação de critérios que, nos sobressaltos do mundo actual, permitam avaliar e fazer a destrinça entre as experiências que servem a edificação do homem e o seu futuro responsável, e as que não passam de puro divertimento com que atravessamos a “era do vazio”. Na questão do fundamento repercutem-se afinal as interrogações nucleares, essenciais, sobre o princípio do ser e o sentido do existir, sintetizadas por Kant nas quatro questões fundamentais: Que posso saber? Que devo fazer? Que me é dado esperar? Que é o homem?

A proposta de filosofia da cultura praticada por Manuel Antunes, sendo um exercício de solicitude e de compromisso solidário com o destino do homem, e precisamente por isso, transcende infinitamente o universo antropológico. O que no ser do homem verdadeiramente está em jogo é o destino do homem no Ser. Nesta filosofia, não há questionamento nem resposta antropológica que não se transcenda em ontologia da cultura. Numa das suas declarações mais afirmativas, o nosso pensador ousa fazer prospectiva e proclamar que “se ser profeta é saber fundar-se na história, atrevemo-nos a dizer que a filosofia do próximo futuro será porventura dominada pela constelação da ontologia e da metafísica” (in: “A Metafísica Tomista em Perspectiva”).

De facto, no discurso ensaístico de Manuel Antunes lê-se em filigrana a nostalgia da síntese em que se fundem todos os saberes e em que nem um só dos mais humildes grãos de verdade deixa de contar. Entre as suas formulações mais recorrentes está a da incansável procura da unidade e da totalidade.” (pp. 3-4)

 

 

OCPMA, tomo I, volume IV | Theoria: Cultura e Civilização – História da Cultura

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. I – Theoria: Cultura e Civilização, vol. IV – História da Cultura, Edição crítica, Coord. Cient. Luís Filipe Barreto, Lisboa: FCG, 2007.

 

Da Introdução, por Luís Filipe Barreto:

“A teoria e a prática da História Cultural são um dos pilares da obra de Manuel Antunes, S.J. (1918-1985).

A História da Cultura é uma ciência factual social/humana de condição mais qualitativa que quantitativa (hoje diríamos uma ciência incerta que produz tipologias de regularidade provável/estatística, teorias de médio alcance válidas para um situado temporoespacial). Manuel Antunes coloca, desde o início, a História Cultural sob o signo da racionalidade crítico-científica, recusando toda e qualquer diluição da mesma nos reinos da retórica e da ideologia.

Para quem teve o privilégio de acompanhar as aulas de Manuel Antunes, nos inícios da década de setenta do século XX, é nítido que existe então uma renovada complexificação e aprofundamento do estatuto teórico da história da cultura.

[…]

Da antiguidade aos anos setenta do século XX, o arco temporal desenhado por Manuel Antunes permite ver no para além do instante e da superfície. E esse arco tanto serve para pensar a ecologia como o amor, o jogo ou o mito.

É uma proclamação dos tempos culturais como temporalidades sedimentadas e arqueológicas, da mais longa duração milenar ou multissecular. Camadas de sentido e, por isso, porosas e de uma autonomia interdependente porque o mesmo se faz outro mesmo na aparente repetição ou continuidade, porque “… não representa exactamente o mesmo hoje que ontem ou o mesmo hoje que amanhã…” (Manuel Antunes).

Neste volume de História da Cultura da Obra Completa de Manuel Antunes, a coordenada temporal é o fundamento da necessidade e da possibilidade. A historicidade é a casa do ser e do sentido.

Este fascínio pelo regime temporal do cultural não é um mero exercício erudito ou curioso, mas sim uma estratégia de conhecimento do presente. O tempo é para Manuel Antunes o fio por excelência da racionalidade do humano.

Racionalidade idealista porque acredita na potência da ideia e na força do ideal desde que caminhem pelas paisagens do diálogo e da pluralidade.

Manuel Antunes é um jesuíta e um pensador de profunda cultura cristã, todavia as suas estratégias de racionalidade dialogal pluralizam a sua base cultural que se torna eclética e sincrética. (pp. 1 e7)

 

 

OCPMA, tomo II | Paideia: Educação e Sociedade

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. II – Paideia: Educação e Sociedade, Edição crítica, Coord. Cient. José Eduardo Franco, Lisboa: FCG, 2008.

 

Da Introdução, por José Eduardo Franco:

“Bem à maneira clássica, Manuel Antunes pensa a questão da educação na sua relação intrínseca com a cultura e a sociedade. Pretende estabelecer as balizas de uma autêntica Paideia, em que o projecto educativo pressuponha um projecto de cultura, um projecto de homem e de sociedade a construir. Considera altamente deficitários e até perigosos os projectos de educação como mera instrução, que apenas visem a transmissão de uma technê. O que importa garantir é a concepção de um plano de formação/construção global da pessoa humana, que o autor da Paideia grega, Werner Jaeger, traduz pelo conceito de Bildung, claro está, no quadro de uma ‘cultura’, entendida, à maneira grega, como ‘a totalidade da (…) obra criadora’ de um povo. Neste sentido, o Padre Manuel Antunes declarou numa espécie de manifesto fundante daquilo que entendia ser o horizonte de exigência e meta de um projecto educativo global: ‘Uma educação ou é total ou simplesmente não é. Uma educação ou tem em conta todas as aspirações do homem ou não passa de um logro. Pretender construir uma ‘ciência’ da educação sem que nela influa, para nada, nem a moral nem a metafísica é edificar sobre a areia. É o todo do homem que está em causa e não apenas a inteligência. E esse todo, como diz Blondel, joga-se na acção que é o centro da vida’”. (p. 8)

 

 

OCPMA, tomo III, volume I | Política e Relações Internacionais

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. III – Política e Relações Internacionais, vol. I, Edição crítica, Coord. Cient. Guilherme d’Oliveira Martins, Lisboa: FCG, 2008.

 

Da Introdução, por Guilherme d’Oliveira Martins:

“Afinal, a Guerra do Peloponeso não exige para a sua compreensão que se possa reflectir sobre o fenómeno multissecular da Guerra? E a ascensão e queda das grandes civilizações e dos impérios não obriga a comparar situações diferentes e a contrastar estímulos e respostas diversificados? E o certo é que, a cada passo, encontramos o Padre Manuel Antunes a procurar, em simultâneo, pôr-se na pele do comentador, do jornalista, do cientista político, mas também do intelectual e do académico, para melhor poder lidar com a matéria-prima indispensável para o estudo e a interpretação de condicionantes fundamentais da história das culturas: a humanidade. E se nos deparamos com diferentes pseudónimos na fecundíssima condução da Brotéria, nos anos sessenta e início dos setenta, tal deve-se não só à preocupação de evitar uma orientação monolítica da revista, mas também à necessidade pessoal de assumir diferentes registos na escrita e no comentário.

[…]

Neste primeiro volume relativo à Política e às Relações Internacionais, singulariza-se o texto Repensar Portugal, publicado em livro, com assinalável êxito. A obra, dada à estampa originalmente em 1979, manteve, passados estes anos, uma curiosíssima jovialidade, o que não é fácil de acontecer quando estamos perante ensaios políticos e sociais. E, tendo sido os ensaios que a constituem escritos dez anos antes da queda do muro de Berlim, é muito interessante notar hoje um sentido profético nas considerações de Manuel Antunes. Daí que tenhamos de reconhecer que a citação de Nietzsche, usada pelo autor, ganha hoje uma pertinência evidente: ‘é a cultura que dota a consciência de memória, mas essa memória é mais função do futuro do que do passado’. Repensar Portugal exige a compreensão da importância de uma revolução moral. O autor fala, por isso, na necessidade de assumir o primado da produtividade sobre a propriedade, da cultura sobre a economia, do ser sobre o ter, da comunidade sobre a sociedade. A democracia necessitaria, assim, de concretizar os dês exigentes de um projecto renovado: desburocratizar, desideologizar, desclientelizar e descentralizar. Para tanto, haveria que interiorizar a democracia e que dignificar a política.” (pp. 1-3)

 

 

OCPMA, tomo III, volume II | Política e Relações Internacionais

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. III – Política e Relações Internacionais, vol. II, Edição crítica, Coord. Cient. Guilherme d’Oliveira Martins, Lisboa: FCG, 2008.

 

Da Introdução, por Guilherme d’Oliveira Martins:

“O segundo volume do tomo relativo à Política e Relações Internacionais da Obra Completa do Padre Manuel Antunes corresponde ao abrir rico e heterogéneo de perspectivas de reflexão num período de transição, os anos setenta do século XX, caracterizado por muitas incertezas e perplexidades e pelo intenso avolumar das nuvens anunciadoras de transformações profundas, nas relações internacionais, na abertura de fronteiras para o que hoje designamos por globalização e nos campos da comunicação e da informação. Muito do que encontrámos no primeiro volume tem aqui desenvolvimento ou continuação, mantendo-se, no essencial, as linhas de força já encontradas.

Continuam a sentir-se os ecos de Maio de 1968, já abordados, a partir dos acontecimentos prenunciadores de Berkeley e de tudo o que se lhe seguiu, e agora, na Europa, sob o fascínio de influência chinesa. No essencial, continuamos a acompanhar o tema do anquilosamento do regime da União Soviética, sob a tónica de um imobilismo que transporta no bojo a necessidade de uma profunda mudança social, política e cultural, que era muito difícil de prever quanto ao modo de concretização no momento em que os escritos agora apresentados foram produzidos. Prevalece, assim, a ideia do autor sobre a desorientação dos impérios e sobre a latente fragilização dos respectivos fundamentos. Por outro lado, o caso da China, foco de inesperada atracção ideológica, é especialmente analisado, num momento em que ao deslumbramento juvenil pelo regime de Mao se somam os esforços de abertura e de reconhecimento pelo governo dos Estados Unidos da América no consulado Nixon/Kissinger.” (p. 1)

 

 

OCPMA, tomo IV | Religião, Teologia e Espiritualidade

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. IV – Religião, Teologia e Espiritualidade, Edição crítica, Coord. Cient. Hermínio Rico, sj, Lisboa: FCG, 2007.

 

Da Introdução, por Hermínio Rico, sj:

“O P.e Manuel Antunes foi um teólogo? Ou, mais comedidamente, foi também teólogo? Em termos universitários, as áreas a que se dedicou enquanto docente foram as Humanidades Clássicas e a Filosofia. A Crítica Literária, a Política e a Educação, como o alinhamento dos tomos desta Obra Completa mostra, ocuparam-no também, em muito significativa parte, no seu labor de escritor. O mesmo se passou – a existência deste volume afirma-o – com matérias do campo da Teologia.

O mais incontroverso será definir o P.e Manuel Antunes como homem de cultura. Homem que pensou cultura, a ensinou e a viveu segundo uma ideia assente numa visão de humanismo integral, que, por isso, não podia excluir nem prescindir da dimensão transcendente da experiência histórica humana, pessoal e colectiva. Do objecto de investigação, reflexão e ensino do P.e Manuel Antunes enquanto homem de cultura, faziam, assim, parte integrante a espiritualidade, a religião e a teologia. Os escritos aqui reunidos, embora possam muitas vezes ter sido orientados por motivos ocasionais ou constituir simplesmente respostas a solicitações fortuitas, não podem ser vistos como marginais ao seu labor intelectual, secundários como veículo da transmissão do seu pensamento, ou menores na construção da sua personalidade intelectual.” (p. 1)

 

 

OCPMA, tomo V, volume I | Estética e Crítica Literária

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. V – Estética e Crítica Literária, vol. I, Edição crítica, Coord. Cient. Eduardo Prado Coelho e Miguel Real, Lisboa: FCG, 2009.

 

Da Introdução, por Miguel Real:

“Sintetizando a experiência de quase uma dezena de anos como crítico literário, o Padre Manuel Antunes, em 1960, escreve o texto citado ‘Da Crítica Literária’. Mais do que um texto teórico, explorador de uma conceptualização formal sobre a crítica literária, e menos do que exprimir preferência por uma outra corrente crítica, evidencia limpidamente a sua permanente posição activa e recreativa face ao mundo, que posteriormente designará como ‘revolução’ da ‘sensatização’, isto é, a ‘revolução’ da ‘sensatez’, de todo afastada de caminhos extremistas. Em ‘Da Crítica Literária’, Manuel Antunes confessa que adoptara duas metodologias analíticas complementares: ‘Em crítica literária, havendo tantos métodos, nem todos servem a todos. Pelo que lhe diz respeito e na estreiteza dos seus próprios limites naturais, o autor destas páginas tem procurado conjugar dois desses métodos: o fenomenológico e o dialéctico. O primeiro surgiu-lhe como o meio mais adequado para conseguir uma rápida e rigorosa ‘leitura’ de sentido; o segundo apareceu-lhe como o seu complemento indispensável na tentativa de apreensão do movimento cultural e de integração do fenómeno literário no conjunto histórico’.

Humanista, de sólida formação histórica, nunca o Padre Manuel Antunes poderia estatuir como absoluto o método fenomenológico da descrição, pretendendo este instaurar cada obra literária como um todo auto-suficiente e independente, valendo por si, de certa forma reduzindo o conteúdo à forma por que este se apresenta à consciência. Daí o método dialéctico complementar, fazendo entrar o conteúdo na forma, ou combinando harmonicamente estes dois elementos na unidade da obra. Deste modo, analisando atentamente a prática da crítica literária do Padre Manuel Antunes na Brotéria, ao longo de toda a década de 50 (período a que, de certo modo, corresponde este capítulo de Ao Encontro da palavra (I)), constata-se, de facto, que o autor harmoniza com grande perícia a autonomia da estrutura formal do texto, o sentido estético por este evidenciado e a vinculação de ambas ao sentido histórico conjuntural que, por sua vez, enlaça a obra literária num sentido cultural propriamente dito.” (pp. 7-8)

 

 

OCPMA, tomo V, volume II | Estética e Crítica Literária

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. V – Estética e Crítica Literária, vol. II, Edição crítica, Coord. Cient. Eduardo Prado Coelho e Miguel Real, Lisboa: FCG, 2009.

 

Da Introdução, por Miguel Real:

“Ao longo da década de 50, o Padre Manuel Antunes, já como colaborador permanente da revista Brotéria, na rubrica “Vida Literária”, escrita em parceria com o Padre João Mendes, fez igualmente parte da direcção fundadora da revista literária de Braga Quatro Ventos. Revista Lusíada de Literatura e Arte, dirigida pelo crítico literário Amândio César, verdadeira alma desta publicação. A colaboração quantitativa e qualitativa do Padre Manuel Antunes na Quatro Ventos é, porém, inversamente proporcional à importância dos cargos exercidos, os de direcção e redacção. De facto, ao longo dos três anos da existência da 1.ª série (1954-1957), apenas contribui com um brevíssimo apontamento sobre a morte da escritora francesa Collete e um artigo, “O Teatro Poético de T. S. Eliot”. Muito, muito pouco, comparado com a produção mensal publicada na rubrica “Vida Literária”, da Brotéria. Porém, o fraco grau de empenhamento de Manuel Antunes na Quatro Ventos não se deve – cogitamos – exclusivamente à sua dedicada participação na Brotéria. Factores de natureza ideológica devem, igualmente, ser tidos em consideração, já que Quatro Ventos praticava uma crítica literária de timbre nacionalista.

[…]

Universalista e humanista, Manuel Antunes interroga-se sobre – entre tantas – a qualidade fundamental que deve acompanhar o crítico. E responde, reiterando a sua afirmação inicial: ‘a intuição compreensiva da totalidade’ do ser. Isto é, total ausência de nacionalismo literário, como em filosofia registará, cinco anos mais tarde, dever existir total ausência de nacionalismo.

Com efeito, avolumando-se o modo ideológico de transfiguração do fundo cultural da língua portuguesa em operador ideológico (‘lusíada’), promovido pela redacção de Quatro Ventos, e avolumando-se a concepção de crítica literária do Padre Manuel Antunes desde 1952 na Brotéria, uma concepção universalista e humanista, com evidência se constata serem ambas contraditórias, justificando-se assim o pouco empenho deste autor na primeira revista. Sem rupturas expressas nem negações conflituosas, como sempre foi timbre da sua personalidade humanista, o Padre Manuel Antunes limitou-se a aceitar o convite dos seus amigos de Braga para participar em Quatro Ventos, não se empenhando, todavia, nesta.” (pp. 1 e 4-5)

 

 

OCPMA, tomo VI | Correspondência e Outros Textos

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. VI – Correspondência e Outros Textos, Edição crítica, Coord. Cient. Aires A. Nascimento, Lisboa: FCG, 2010.

 

Da Introdução, por Aires A. Nascimento:

“Partiu Manuel Antunes definitivamente antes da consumação da revolução da informática nos comportamentos de comunicação; ateve-se ele aos registos da escrita, manual e impressa, atento à formalização dessa escrita para atender à relação humana que ela possibilitava, mas apercebemo-nos facilmente que essa correspondência epistolar não era mais do que supletiva no encontro directo, que lhe agradava mais porque propício a desfazer dúvidas e equívocos ou capaz de suscitar empenhamentos pessoais. Sócrates bem dissera que o registo escrito não respondia à singularidade do leitor; Manuel Antunes lança nas suas cartas o que a distância não lhe tolera fazer pela palavra que do coração passa pela mente e chega aos lábios – por isso o telefone servia para os mais diversos contactos (e disso não ficaram registos, embora haja referências).

Diversos foram os correspondentes, diferentes as relações que com eles se criaram, variados os modos de as traduzir – um cartão de Boas Festas emparceira com um outro de presença ou de resposta breve, porque o tempo não sobrava para mais; alargam-se algumas cartas à dimensão das efusões que é possível conter no registo que não tem pretensões de exposição. Não temos, por outro lado, cartas de direcção de consciência propriamente dita: ou elas não existiram ou a discrição ditou (a ele e ao seu correspondente) que não se guardassem mais que o tempo necessário para devolver a resposta que se fechava no circuito que pertencia a quem iniciara o processo no interior da sua consciência e a ela voltava. Não temos também documentos que façam parte da sua participação na vida familiar de comunidade religiosa: compreensível tal restrição, pois esse domínio pertence a muitos outros com quem ele convivia de forma plena, e só eles (com o discernimento que lhes cabe) poderão determinar o tempo e o modo de trazerem a conhecimento alheio os testemunhos que eles eventualmente conservam.” (p. 4)

 

 

OCPMA, tomo VII | Biografia Ilustrada: Padre Manuel Antunes, sj – Homo Oecumenicus

Padre Manuel Antunes, sj, Obra Completa, t. VII – Biografia Ilustrada: Padre Manuel Antunes, sj – Homo Oecumenicus, Coord. José Eduardo Franco e Luís Machado de Abreu, Lisboa: FCG, 2011.

 

Do cap. “Sentinela da Cidadania”:

“Por mais espontânea e original que pareça a vontade de participação na vida da cidade, nunca se pode ignorar o papel formativo dos próprios acontecimentos e situações nem a importância do contributo teórico recebido do magistério directo ou apenas difuso de escolas, movimentos e doutrinadores.

Assim sucede com Manuel Antunes. A solicitude pela coisa pública de que Repensar Portugal (1979) nos dá a mais clara e densa expressão resolve-se em objectivos programáticos que a experiência, o bom senso e o estudo foram definindo com o andar do tempo.

Convergem em Manuel Antunes águas de muitas fontes. Se fizermos o inventário das referências que inspiram as linhas de fundo do seu projecto para Portugal, encontramos ecos das perspectivas analíticas e das propostas de mudança bebidas na lição ‘dos três homens que, entretanto, melhor nos conheceram: Alexandre Herculano, Antero de Quental e António Sérgio.’ É nessa herança intelectual de apelo à reforma das mentalidades que se inscreve o seu exercício de reflexão sobre as prementes necessidades económicas, sociais , políticas e culturais do país. Faz delas uma leitura em certa medida convergente com as dos homens da Seara Nova. A sergiana reforma da mentalidade, retomada e dinamizada como ‘reforma moral’, é ainda o leitmotiv que norteia o rumo certo para Portugal.

Foram muitas as circunstâncias em que a cidadania activa de Manuel Antunes teve oportunidade de se exercer, sempre ao serviço de causas nacionais, através da prestação de contributos consentâneos com as reconhecidas capacidades de reflexão e a condição de religioso jesuíta.” (pp. 125-126)

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