Projeto Obra Completa do Marquês de Pombal

É bem conhecida a importância histórica do Marquês de Pombal e da sua ação política e diplomática, que o tornaram num dos políticos portugueses mais marcantes e de maior projeção internacional. Na verdade, Sebastião José de Carvalho e Melo, diplomata da corte portuguesa junto da corte inglesa e da corte austríaca, e depois “Primeiro-Ministro” de D. José I, legou à posteridade uma vasta obra por ele escrita ou por ele diretamente inspirada.

Esta obra, constituída por manuscritos inéditos e impressos, encontra-se ainda hoje dispersa e mal conhecida, merecendo, em virtude do seu significado histórico, político, filosófico, pedagógico, jurídico, religioso, urbanístico e artístico, uma edição global devidamente enquadrada e criticamente anotada. A inexistência da edição das Obras Completas do Marquês de Pombal constitui, de facto, uma tripla falha cultural que obstaculiza fortemente as investigações históricas e filosóficas sobre o século XVIII português. Com efeito:

  • Constitui-se como a mais grave lacuna no campo da investigação sobre as coordenadas culturais do século XVIII português.
  • Contribui para uma profunda insuficiência no estudo da mentalidade iluminista portuguesa.
  • Concorre para uma profunda insuficiência no levantamento das condições conjunturais da formação do Estado contemporâneo nacional.

Concomitantemente, por carência da compilação da totalidade da obra do Marquês de Pombal, tem-se tradicionalmente absolutizado um conjunto contraditório de interpretações sobre o real papel deste ministro do reino nas profundas transformações políticas, económicas, pedagógicas e de costumes que varreram Portugal na segunda metade do século XVIII. Tal contribuiu fortemente para a consolidação, no imaginário histórico português, do “mito” do Marquês de Pombal, que a copiosa bibliografia passiva adorna positiva e negativamente, num balancear que apenas as novas investigações, fundadas na futura obra completa publicada do Marquês de Pombal, poderão superar, estatuindo o real e legítimo papel da ação do Marquês na evolução histórica de Portugal.

Assim, a publicação da obra completa da pena única do Marquês de Pombal, juntamente com obras por si orientadas no quadro dos 27 anos do seu consulado governativo, não só se evidencia como um importante e urgente imperativo científico e cultural, como intenta resgatar uma verdadeira omissão histórico-cultural da historiografia portuguesa. Esta, usando o primeiro centenário da morte do Marquês (1882) como fonte de propaganda republicana, acentuando o carácter divisório da sua imagem mítica, e o segundo centenário (1982) como balanço académico-analítico da sua obra, foi, no entanto, incapaz de promover o que a sua imagem verdadeiramente exigia – a publicação das suas obras escritas –, de modo a esvaziar-se o “mito” e deixar-se emergir a história.

A preparação da edição da obra completa desta que foi uma das maiores figuras políticas de Portugal e da Europa das Luzes será certamente um marco cultural de relevo, abrindo ainda caminho a um conhecimento mais aprofundado da sua vida, do seu pensamento e da sua ação. A viabilização deste projeto editorial preencherá, sem dúvida, um vazio grave da nossa cultura que especialistas e interessados no período pombalino identificam recorrentemente e cuja urgência em colmatar é há muitos anos reivindicada.

 

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