Esta é uma obra surpreendente e que pode surpreender os leitores pela dimensão e diversidade de olhares sobre o “lado negativo” da cultura portuguesa.
Esta obra apresenta um olhar diferente, um olhar sobre o avesso da cultura portuguesa em articulação com os dinamismos construtivos e disruptivos das suas congéneres internacionais. Fomos habituados, na escola, a aprender fundamentalmente aquilo a que podemos chamar a cultura positiva, a visão afirmativa da história. Este Dicionário, em contrapartida, propõe uma visão diametralmente oposta: uma viagem pelas correntes, as etnias, as religiões, as instituições, as figuras a partir do olhar do adversário, de quem discordou, de quem atacou, de quem pensou o contrário.
Este Dicionário pretende, com efeito, apresentar o resultado da investigação e da análise crítica das correntes e dos discursos centrados com base na perceção negativa dos outros (o judeu, o padre, o inglês, o muçulmano, o comunista, o maçon, o castelhano…) na história de Portugal, desde os primórdios da nossa cultura e civilização até aos nossos dias. Esta abordagem permitirá compreender em que medida tais discursos criaram estereótipos e demonizaram diferenças. Trata-se de analisar a história da cultura numa espécie de imagem em negativo, para empregar uma metáfora fotográfica.
Este Dicionário oferece-nos, entre outros contributos, um mapeamento de largo espectro, um repertório criticamente interpretado do poder dos estereótipos e da sua capacidade de gerar culturas e mentalidades intolerantes, segregadoras, sectárias, exclusivas e excludentes.
Neste momento, está já em estado avançado de preparação uma versão brasileira desta obra sob o título Dicionário dos Antis: A Cultura Brasileira em Negativo. Outras universidades e investigadores de outros países com quem temos trabalhado em torno deste tema estão a gizar obras semelhantes para ampliar este campo de investigação das Culturas em Negativo como via fundamental para a compreensão e desconstrução dos mecanismos que geram culturas e mentalidades intolerantes e como via para criar uma cultura mais esclarecida e consolidadora de sociedades livres, plurais e maduramente democráticas. Merece, com efeito, nota especial o facto deste ser um projeto de perfil interdisciplinar desenvolvido primeiramente em Portugal que está a suscitar interesse internacional, estando a sua matriz a ser adaptada para o desenvolvimento de estudos da herança cultural anti de outros países.